Quando o homem de “Olhos-de-Coruja” vai à festa de Gatsby, ou sendo mais específico, na primeira festa narrada por Nick, percebemos que ele está bêbado e observa a biblioteca de Jay com certo assombro e admiração. A razão disso está numa subversão de sua expectativa: os livros de Gatsby são reais.
Ele, além de Carraway, é o único que vê Jay Gatsby como alguém — não como um novo-rico para que se faça proveito de seu dinheiro, festas e mansão. Na realidade, após esse evento, o personagem passa a enxergar Gatsby como alguém real, apesar de Jay tomar uma posição de espectador distante em suas próprias festas, após essa interação na biblioteca, ele passa a ser um homem com desejos, interesses e vontade reais, tal como Nick o vê após tomar consciência dos seus anseios por Daisy. Por essa razão, ele é o único (novamente, além de Carraway) que comparece ao seu funeral.
Além disso, sabemos que Fitzgerald possui raízes irlandesas por sua família. Para a mitologia celta, a coruja é simbolizada como um prenúncio da morte.
“Why, my God! they used to go there by the hundreds.”He took off his glasses and wiped them again outside and in.“The poor son-of-a-bitch,” he said.
A introdução perfeita à literatura, mentalidade e psicologia de Nelson Rodrigues. Uma escrita quase confessional perpassa cada singela frase desse livro — uma sinceridade árdua, avassaladora, brutal te convida a sofrer junto com o autor em cada passagem.
A realidade da vida, ou melhor, a transformação da visão infantil para a crueldade e malícia do mundo (Ruy Castro diria bem: “[Para o pequeno Nelson] uma única adúltera na Rua Alegre tornava suspeita todas as mulheres no mundo”), a pobreza que assolava sua vida periodicamente, a morte e a desgraça imerecida sobre as pessoas mais queridas, tudo isso é tema crucial, e eu diria que essas memórias demonstram perfeitamente o quão estigmatizado foi o menino Nelson por essas questões e como tudo isso influenciou os seus escritos.
Digo que é o melhor livro já escrito em nossa língua. Uma experiência que perpassa entre a santidade e a podridão, o desejo e o remorso, o bom e o mal, a vida e a morte com a calma de um lago, a fluidez de um rio e a perspicácia de um gênio.
Achei o livro nas coisas da minha mãe, vi que tinha um capítulo sobre como não sucumbir ao uso da função soneca - coisa que eu faço com bastante frequência - e decidi dar uma chance. Considerações finais: premissa boa, péssima execução. Se o livro tivesse um total de páginas entre 30-50 (feito facilmente aplicável apenas mantendo o conteúdo que presta e retirando os trechos sobre a vida pessoal do autor, depoimentos, etc, etc), seria melhor.
Vou testar e em 30 dias eu volto pra dizer o que achei.
Acabei de terminar o livro e, enquanto não escrevo nada mais, posso dizer o seguinte:
Existem dois «Guerra e Paz».
O primeiro é uma obra prima da literatura mundial, com mundos e personagens muito bem construídos e cenas emocionantes. Este é, de fato, digno de todos os elogios e notas que o livro recebeu ao longo de sua publicação.
O segundo é as teorias filosóficas do Tolstói, que ele INSISTE em repetir abstinadamente durante a leitura.
É isso.
Sempre que minha família se propunha a realizar a aguardada viagem anual para o interior de Minas Gerais, visitar minha avó, um certo aspecto me atraía a atenção: as longas paisagens que denotavam uma melancolia constante, quase inerente. A noite era sempre resguardada por um tom de superação, graças à constante aproximação do nosso destino após aproximadas 14 horas de viagem, mas a manhã do dia de volta era reflexiva, com os sentimentos causados pela despedida gritando, sem voz.
Esses sentimentos me foram projetados por Iegoruchka durante toda a leitura; muitas cenas me eram relacionáveis, com um elo entre as descrições emotivas de Tchekhov e minhas memórias reais, tudo se une de uma forma agradável pela leitura calma do romance.
Os pontos de tensão com os bandoleiros foram o clímax do livro. Sempre haverão momentos na vida em que, mesmo rodeados de pessoas, nos sentimentos sós, com saudades do conforto materno que rondava nossas escolhas durante a infância. A passagem para a vida adulta, aqui simbolizada pela própria viagem pela estepe, nos obriga a esconder essa dependência e depositá-la em algo mais “maduro”, como quando Iegóri reza à Deus durante a tempestade.
E com a viagem terminada, o “rito de passagem” de Iegoruchka é finalizado, e o romance acaba, nos deixando apenas a incerteza sobre o futuro como espelho da realidade. Todos os dias participamos de processos que nos destinam para certos locais, mas onde iremos terminar? Esses locais serão bons ou ruins? Iremos ser mais felizes? Só Deus pode responder.
Marcos é sensacional em separar a «astrologia» da “astrologia”. Só não digo que recomendo para todos pois não sei qual é o contexto em que a pessoa vai utilizar esse conhecimento, e não quero ser responsável pela (possível) descida ao inferno de ninguém.
Claro, como é uma INTRODUÇÃO, definitivamente muitas questões serão deixadas de lado, sendo estudadas apenas por cima, mas o livro serve sua função perfeitamente, os capítulos sobre simbolismo dos números, casas e dos signos são muitíssimo bem escritos, apesar de curtos.
É difícil negar a habilidade de escrita do Yuri. Alguém que aprendeu com Bruno Tolentino e Hilda Hilst, prestigiado por Rodrigo Gurgel, Lydia Fagundes Telles e Olavo de Carvalho, torna-se óbvio que existe, sim, uma habilidade estilística no livro.
E eu, que já havia lido outros livros dele, sabia disso antes de abrir a primeira página. Porém, apesar de eu ter amado seu livro anterior, senti que este foi o trabalho mais maduro do escritor. Os relatos reais por ele narrados, que ocorreram durante sua estadia na Casa do Sol, te prendem do início ao fim de cada conto. Talvez seja o peso destas serem histórias reais (que apesar de serem narradas como tal, são mais excêntricas que as ficções escritas pelo autor), mas estas são incrivelmente instigantes, e com personagens fixos, sendo estes os moradores da casa de Hilda, você desenvolve um apego emocional a eles, suas personalidades e defeitos, que tornam o livro extremamente humano, apesar das diversas singularidades narradas, que são contadas com um humor fixo e com temáticas que variam entre espiritualismo e erotismo muitas vezes de página em página.
Que venham mais livros do Yuri, pois em cada obra ele parece se superar cada vez mais.
Algo que me é engraçado: Quando Nietzsche escreve, em seu «Assim Falava Zaratustra», quase quatrocentas páginas de pura abstração entendiante e pueril, ele é aclamado pelo público. Quando Chesterton faz o uso de metáforas e paradoxos de forma inteligente para basear seus argumentos, ele é tratado com escárnio.
Chesterton é um mestre da escrita. Sua capacidade de harmonizar uma alta densidade de informação com uma escrita divertida é o que vende esse livro pra mim.
«Ortodoxia» é o livro que iniciou minha experiência com Chesterton, que apesar de eu haver antes lido alguns artigos dele, não havia lido uma obra completa, o livro estava barato, e mesmo sabendo que deveria ler o «Hereges» antes, comprei-o. Sua escrita é magistral e sua capacidade de simplificar temas torna a leitura prazerosa. Recomendo para cristãos e para céticos que querem ter uma visão ampliada do cristianismo.
Essa review pode ter sigo meio corrida e prolixa, mas, nesse momento, estou me encaminhando para a festa de réveillon, onde irei agradecer a Deus por tudo que Ele me deu. Feliz 2022, meus amigos!
Visto que, quando li Dom Casmurro pela primeira vez, também não fiquei muito encantado (precisei ler novamente para entender a genialidade da obra), pode ser que esse seja o caso aqui. Mas por agora, posso dizer que, apesar de ser um bom livro, não passa de uma crônica divertida. Não vi nada demais.
Anti Nelson Rodrigues (1 leitura) 6/10Eu decidi ler essa peça após Vestido de Noiva, que é outra peça do Nelson Rodrigues, graças ao título chamativo. Comparada a esta, Anti Nelson Rodrigues não carrega toda a genialidade da outra e não traz nada de inovador, na verdade tem aspectos que sempre estiveram presentes em suas obras, apesar do título. Os personagens são vivos de uma forma que só o Nelson conseguia conceber, mas acredito que justamente porque ele quis criar essa peça “irônica”, o desfecho acabou não me descendo muito bem. O final me foi bem amargo e difícil de digerir, apesar de ouvir que ele é feliz, eu virei a página e simplesmente não podia acreditar que havia acabado.
(eng/pt-br) The Plague - Albert Camus (1 reading): 76/100 (reviewed in 7-24-2021)
There's something poetic on the fragility that envolves human life, and that becomes clear on the situation that this book brings to the table.
Sincerely speaking, i've always had a bias against Camus. All that absurdist philosophy, coming from a materialist atheist, never made my mind
Easy to imagine that i have always avoided Camus and any of his works, homever, while visiting my grandfathers, i've found a The Plague edition dated of Christmas-1975 on my grandpa's bookshelf - gift he received from my now deceased great aunt, which i never had the opportunity to meet.
So, i put myself on the commitment to read this for a few days, and it really surprised me on not being a existencialism pamphelt disguised as a romance, but an actually interesting and consistent book.
The beginning of the narrative we are presented to Rieux, a doctor who eventually will oppose the plague, on the effort to save as many lifes as possible.
Camus' rhetoric is dry, which leads me to believe that this is one of the reasons this book achieved such a “cult” status. Phrases like “they suffer, not knowing why” and “the plague is the life” are recurring on the narrative, that while adding little to the narrative, improve it's atmosphere.
Characters like Paneloux, Cottard and Grand are definitively the best part of the book. Their personal dilemmas are narrated on a magistral way. The Priest's faith crisis, Grand's regret and the happiness - and eventual agony - from Cottard (which i would say that it is the book's most interesting character) make the narrative more interesting then when the it is describing the “main” characters' events, like Rieux, Tarrou and Rambert.
The “secondary plots”, which is the day i decided to call these session, are another interesting addition to the book. A lot of times, the narrator will describe events which generalize the Oran's citizens, so we see the general reaction to the epidemic, like faith crisis, rebellions against inequality and insatisfaction with the government.
The alegoric part of the book is, also, curious. The pest being the absurd of life, which can suddenly strike us hard. Kinda cliché, but well executed.
In general, it's enjoyable, but it's negative sides are blatant: Camus' rhetoric at times alternates between prolix and exhausting to dry and dull. There are some chapters that seem “useless”, and the “revelation” of the last chapter is disappointing, as if the author had that idea at the last minute.
In the end, The Plague is a good book, but the most intruiging part is to contrast it to the pandemic situation of 2020-2021, i wish i did read it before, because since then, this will never be the same reading.
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Existe algo de poético na fragilidade que envolve a vida humana, e essa se torna clara na situação que envolve a trama do livro.
Sinceramente, sempre tive um preconceito com Camus. Toda essa filosofia absurdista, vinda de um ateu materialista, simplesmente nunca fez minha mente.
Fácil imaginar que eu sempre me esquivei de ler qualquer obra dele, porém, ao visitar meus avós, encontrei uma edição datada do natal de 75 na biblioteca do meu avô — presente que ele recebeu da minha falecida tia-avó, que nunca tive a oportunidade de conhecer.
Então, me coloquei na leitura desse livro por alguns dias, e ele me surpreendeu por não ser um panfleto filosófico do existencialismo disfarçado de romance, mas um livro realmente interessante e consistente.
O início da narrativa nos apresenta Rieux, um médico que eventualmente travará uma espécie de embate contra a peste, na tentativa de salvar o máximo de pessoas possíveis.
A retórica de Camus é seca, o que me leva a acreditar que este é um dos motivos dos quais esse livro atingiu um status “cult”. Frases como “sofrem, sem saber porquê” e “a peste é a vida” são recorrentes na narrativa, que mesmo sendo frases que pouco adicionam na descrição, incrementam para a atmosfera do livro.
Personagens como Paneloux, Cottard e Grand são, definitivamente, a melhor parte do livro. Seus dilemas pessoais são narrados de forma magistral. As crises de fé do padre, o remorso de Grand e a felicidade — e eventual angústia — de Cottard (que eu diria ser o personagem mais fascinante do livro), tornam a narrativa mais interessante até mesmo do que quando é narrado os eventos dos personagens “principais”, como Rieux, Tarrou e Rambert.
Os “tramas secundários”, que foi a forma que decidi denominar essas sessões, são outra parte interessante do livro. Muitas vezes o narrador descreve eventos que generaliza os cidadãos de Oran, assim vemos reações gerais à epidemia, como crises de fé, rebeliões contra a injustiça e insatisfação com o governo.
A parte alegórica do livro é, também, interessante. A peste mostra o absurdo da vida, que pode subitamente nos pôr de cabeça pra baixo. Clichê, porém bem executada.
No geral, a trama é agradável, mas seus pontos negativos também são gritantes: A retórica de Camus por vezes alterna entre cansativa e prolixa para seca e sem-graça. Existem capítulos que parecem inúteis, e a revelação do último capítulo chega a ser decepcionante, como que se o autor teve a ideia de última hora.
No fim, A Peste é um bom livro, mas a parte mais intrigante dele é o contrapor com a situação que passamos na pandemia de 2020, eu gostaria de ter o lido antes desse evento, pois desde então, essa leitura nunca mais será a mesma.
(Texto escrito no dia 03/07/21; postado no Instagram.) # TRAIU OU NÃO TRAIU?
“Traiu ou não traiu?” É a pergunta que nos é proposta antes mesmo de sabermos o conteúdo do livro. Essa pergunta chega a transcender a própria leitura do livro, visto que até quem não o leu já sabe que quando alguém pergunta isso, está se referindo à Dom Casmurro.
Mas por quê?
No geral, nossa geração (eu incluso), pouco acostumada com uma leitura elevada, não consegue compreender que a questão principal do livro NÃO é se Capitu traiu ou não.
Acredite se quiser, mas Dom Casmurro não é um texto do Wattpad. Não é série da Netflix.
Não temos como provar nenhum dos lados — nem de Bento, nem de Capitu. Perguntar sobre a veracidade da traição é inútil. O que eu pude entender, depois de refletir bastante sobre esses princípios, é que tomar a dor de algum dos personagens te cega para a real intenção do autor.
Um homem que tomou decisões extremas, baseado em princípios (não) confiáveis. Sua narrativa busca reforçar os motivos de suas decisões, pois ele mesmo se nega a pensar na possibilidade de ter agido como agiu por nada. Um verdadeiro casmurro.
O que eu compreendo, é que o livro não é sobre uma traição, é sobre o psicológico de um homem que nunca poderá saber se Capitu traiu ou não traiu.
Incrível pensar que, se eu fosse comentar para o Lucas do passado que, ao começar a leitura de um livro que ele decidiu iniciar única e exclusivamente graças ao seu título engraçado, ele estaria esbarrando com o que provavelmente é meu atual livro contemporâneo favorito. Uma experiência infinitas vezes mais divertida e engrandecedora - eu voltarei nesses quesitos mais tarde - do que a de muitos e muitos autores modernos atuais.O livro inicia com um conto chamado “O Machista Feminista”, que na minha humilde opinião, foi não só o melhor conto do livro como também um dos melhores que já li em toda a minha vida. Não irei falar dele aqui pois se trata de um daqueles contos que é melhor ler sem saber de absolutamente nada sobre, mas acredito que sua genialidade deveria receber uma menção. Ao prosseguir com os contos no livro, vamos conhecendo o personagem João Pinto Grande, cujo nome foi uma sacada genial do autor de abrir espaço para abordar certos temas, e de quebra ainda colocar algumas piadas infantis (mas ainda assim engraçadas) nos diálogos.João é um advogado culto, de uma personalidade agradável e extremamente sábio. Sua personalidade e dizeres em muitos momentos nos fazem refletir sobre nossas condições e nos motivam a tentar levar a vida de uma forma mais serena.Eu me sinto até estúpido quando falo essas palavras de um personagem referido como “Pinto Grande”, haha.As histórias dos contos, em sua maioria, conseguem ser reflexivas, abordando temas como niilismo, caridade, superação, guerra, entre outros. Apesar disso, elas nunca perdem seu bom humor, que misturadas com uma boa dose de lucidez, conseguem transmitir sensações diversas ao leitor, que abrangem desde o riso até a melancolia.E com esse livro cujo qual, repito, eu só li graças ao título caricato, eu consegui encontrar o meu mais novo autor brasileiro favorito ainda vivo. Espero ansiosamente para ler os outros livros do [a:Yuri Vieira 7315234 Yuri Vieira https://images.gr-assets.com/authors/1380806293p2/7315234.jpg] e pelo dia em que ele vai terminar aquele romance que ele nos aludiu durante a live do [a:Rodrigo Gurgel 6613998 Rodrigo Gurgel https://images.gr-assets.com/authors/1456098619p2/6613998.jpg].
(eng/pt-br) On the 34th canto of [b:Inferno 15645 Inferno Dante Alighieri https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1520255019l/15645.SY75.jpg 2377563] (Spoiler Alert?) we see, on a frozen place that contrasts against the high temperatures of hell, together with Judas Iscariot, Brutus and Cassius, being tortured by the three heads of Lucifer, on the traitor's circle. “What has someone to do in order to be put together with the traitor of Christ, God himself?” I asked myself.Long story short, the fact that Brutus and Cassius were considered to be as evil as Judas gave me a enormous will to look after their stories, and when I saw the Shakespeare made a story about them, I figured that was the perfect opportunity to read the most famous dramaturg of all time.The story itself, we already know it. Julius Caesar is betrayed and stabbed 23 (on this book, 33) times by the members of the senate. But Caeser is NOT the protagonist, besides the title. In reality, Brutus is the main character here. The story tells his trajectory, his reasons and his eventual death.The writing is nothing short of excepcional, Caeser's phrases give the sensation of a solid and constant (as the Northern Star!) governor. The scene where Brutus and Cassius argue thrilled me. Both Anthony and Brutus's arguments on Caeser's death are extremely moving. On it's writing, it is perfect. On it's story, i have my cons (very, very little cons).Shakespeare creates a narrative where you can't side with anyone. Brutus had his reasons and Anthony too. You won't side with anyone, and you won't cheer for no one (since we already know the ending). Moreover, Caeser's death was too early on. I believe that it was possible to explore more on Brutus and Caeser's relationship. Actually, it was so possible that it looks like it was purposefully made: this “not-interaction” of both characters seems to be intentional.Intentional or not, i believe that by showing us more of those interactions, Caeser's death would have more burden.————————————————————-No 34° canto do Inferno, de Dante (Spoiler Alert?) vemos, em um local congelado que contrasta com as altas temperaturas do Inferno, ao lado de Judas Iscariotes, Bruto e Cássio, sendo mastigados pelas três cabeças de Lúcifer, no círculo dos traidores. “O que em sã consciência alguém pode fazer para ser colocado ao lado do traidor de Cristo, o próprio Deus encarnado?” Eu me perguntei.Em resumo, o fato de Bruto e Cássio estarem considerados tão ruins quanto Judas, me deu uma tremenda vontade de saber mais sobre a história destes, e quando eu vi que Shakespeare havia feito uma obra sobre, pude concluir que esta era a oportunidade perfeita para finalmente conhecer o mais famoso dramaturgo de todos os tempos.A história em si, já conhecemos. Júlio César é traído por Bruto e esfaqueado 23 (que no livro, são 33) vezes pelo Senado. Mas Júlio César NÃO é o protagonista aqui, apesar do título. Na realidade, o protagonista é Marco Bruto. A história conta a trajetória de Bruto, seus motivos, e sua eventual morte.A escrita é sensacional, diga-se de passagem. As frases de César passam a sensação de um governador sólido e constante (como a aurora boreal). A cena da discussão entre Cássio e Bruto é clássica. Os discursos de Bruto e Antônio são extremamente comoventes. No quesito escrita, é perfeito. Mas como história, tenho meus poréns (bem, bem pequenos poréns).Shakespeare cria uma história onde não temos como tomar partido de ninguém. Bruto tinha seus motivos e Antônio, os dele. Você não toma partido em nenhuma hora da leitura, e não torce por ninguém (até porque já sabemos o final). Além disso, a morte de César foi um pouco cedo demais. Eu acredito que era possível explorar mais a relação entre César e Bruto. Na verdade, era tão possível que parece ser feita intencionalmente: essa não interação entre os dois personagens parece ter sido até mesmo proposital.Proposital ou não, eu acredito que caso a relação deles fosse explorada, poderíamos ter mais peso na morte de César (Et tu, Brutus?).