Livro devorado.
No começo confesso que demorei pra entender onde o livro tava querendo chegar. Ele foi montando um mosaico aos poucos. Algumas peças desse mosaico eu quase não tava dando importância, mas a escrita é muito boa, bem jornalística e agradável, então continuei lendo.
Quando o livro chega nas partes tensas aí sim não conseguia parar de ler. O ritmo no começo que era bem tranquilo oscilando entre Mikael e Lisbeth de repente começa a oscilar com uma frequência maior e os batimentos cardíacos também.
Esse recurso também foi usado no final do clímax do livro, que também foi muito tenso.
Final bem satisfatório, fiquei curioso pro seguinte.
Eu estava interessado no tema ‘coming of age' e decidi ler esse livro.
Eu gostei, mas não amei. O livro é muito apressado, as cenas acontecem muito rápido e com pouco desenvolvimento, ainda assim, em poucas página o leitor já reconhece aqueles jovens e já consegue se relacionar com cada um.
Um “clássico” ainda é um clássico por um motivo, é um livro gostoso de ler. E acredito que perdemos um pouco o tato do que eram gangues e jovens até os anos 80 - eu mesmo sequer vivi algo parecido -, mas mesmo assim é possível se relacionar com os personagens e temas.
C0nsiderando que mesmo em São Paulo tínhamos gangues nos anos 80, pessoas como o Clemente escrevendo as primeiras letras do Restos de Nada aos quinze anos, da pra entender o efeito cultural desse livro.
Comparando com o primeiro livro eu daria a esse livro uma nota mais baixa. O livro é melhor que o primeiro na verdade, mas o primeiro tem um ar de novidade e excitação que este segundo não tem.
Enquanto o Assassin's Apprentice conta sobre um menino na primeira infância e adolescência, focando bastante na solidão, Royal Assassin conta o final da adolescência de Fitz e começo da vida adulta.
Jovem adulto que tem muitos amigos e está sempre rodeado por pessoas, chegando até compartilhar intimidade com outros, ainda assim ele se sente solitário. Isto ressoou bastante comigo, porque vivi essa experiência de se sentir assim.
O livro tem uma interpretação do Dilema do Porco-espinho muito parecido com Evangelion nesse sentido. Se aproximar das pessoas machuca elas e você mesmo e se afastar caímos na solidão. Achei as representações desse sentimento em Fitz muito dignas e compreensíveis e é muito bem expresso até na relação dele com a Skill. Que Verity fala pra ele que ele coloca uma guarda tão alta contra as pessoas ao redor dele que ele cria uma barreira contra a Skill. Mais a frente no livro Chade ainda confirma dizendo que ele nunca vai confiar em ninguém nem entender o quanto as pessoas se importam com ele.
Esse é o ponto alto de um livro bem tranquilo de ler, devagar no seu ritmo. As implicações políticas e as consequências desse livro são bem maiores que no título anterior o que me dá um senso de urgência em ler o próximo título. Apesar de não gostar tanto disso me sinto a vontade ainda em recomendar a trilogia até agora.
Minha maior implicações com o livro é a relação de Fitz com Molly. Apesar de fazer parte e ela ser o grande alvo do dilema do Porco-espinho citado, os diálogos entre os dois são bastante repetitivos.Quanto a Regal eu escrevi que no primeiro livro achei ele bem raso como personagem. Nesse livro isso não muda, apesar dos esquemas e intrigas dele serem mais complexas e misteriosas que no primeiro título. O destaque positivo vai pra Lady Patience igual no primeiro livro, junto com Burrich. Os dois cresceram muito como personagem e fiquei bem feliz. A rainha e o Fool não ficam pra trás.
O livro é muito horrorshow, ó meu irmão. Foi tipo um tolchock bem na gulliver.
Daqueles livros que devorei em poucos dias porque queria acabar logo com a sensação esquisita e mal estar que o livro trás. Não só pelas descrições e cenas horrorosas de violência. Mas todo o trabalho em primeira pessoa somado ao linguajar super estranho vai te deixando muito imerso com tudo.
Eu li o vigésimo primeiro capítulo, que é omitido em algumas versões parece. Eu gostei desse capítulo. A facilidade e indiferença que Alex sente com tudo que passou faz tudo que aconteceu antes ainda mais perturbador. Não é terapia de choque ou lobotomia que fez ele mudar, foi só porque ele não tava mais afim da violência. O que pra mim é bem sinistro.
Incrível!
Esse é o quarto livro que leio do King, tirando uns contos, e é o melhor até agora. Sem enrolação, ele já começa com Paul atordoado na cama de sua “hospedeira” e logo no início da pra ver uma maturidade e complexidade na escrita que não vi nos demais títulos que li.
É muito bom o trabalho de Stephen King faz com as várias referências no livro, especialmente Mil e uma noites.
Um dos meus contos prediletos e muito representativo de Sherazade é sobre um feiticeiro que engana um vizir com um livro. O livro está em branco e envenenado e o vizir vai lambendo os dedos e passando as páginas procurando onde começa a história do livro e se envenena no processo. Esse conto é um ótimo retrato da essência de Mil e uma noites e “contar histórias para sobreviver” e sobre a ausência de história levar a morte. E Misery captura brilhantemente essa ideia, só que agora “escrever para sobreviver” ao invés de “contar”. O final do livro acaba da mesma forma, um livro em branco e uma máquina de escrever que não consegue escrever mais levando a morte de Annie.
Os paralelos com Mil e uma noites não se estendem só a referência direta a Sherazade, mas o livro também tem suas “histórias dentro das histórias”: O Retorno de Misery sendo o exemplo mais óbvio, mas também Carros Velozes e até a vida passada de Annie nos artigos de jornal. Além disso, a sede de Paul por continuar escrevendo e querendo ver o que acontece, até que finalmente a própria escrita substituí o vício, é a captura perfeita de Mil e uma noites como a trama sem fim, sempre haverá mais uma noite.
O fato de Annie ser uma assassina em série, quebrou um pouco a imersão para mim, e não achei necessário pra aumentar o terror que Paul já vivia.
O livro também diz muito sobre o próprio processo de escrita do autor, que ele mesmo já relatou que deixa a história fluir e não sabe muito a direção final dos livros. O que torna Misery um livro riquíssimo com muita metalinguagem.