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Incrível!
Esse é o quarto livro que leio do King, tirando uns contos, e é o melhor até agora. Sem enrolação, ele já começa com Paul atordoado na cama de sua “hospedeira” e logo no início da pra ver uma maturidade e complexidade na escrita que não vi nos demais títulos que li.
É muito bom o trabalho de Stephen King faz com as várias referências no livro, especialmente Mil e uma noites.
Um dos meus contos prediletos e muito representativo de Sherazade é sobre um feiticeiro que engana um vizir com um livro. O livro está em branco e envenenado e o vizir vai lambendo os dedos e passando as páginas procurando onde começa a história do livro e se envenena no processo. Esse conto é um ótimo retrato da essência de Mil e uma noites e “contar histórias para sobreviver” e sobre a ausência de história levar a morte. E Misery captura brilhantemente essa ideia, só que agora “escrever para sobreviver” ao invés de “contar”. O final do livro acaba da mesma forma, um livro em branco e uma máquina de escrever que não consegue escrever mais levando a morte de Annie.
Os paralelos com Mil e uma noites não se estendem só a referência direta a Sherazade, mas o livro também tem suas “histórias dentro das histórias”: O Retorno de Misery sendo o exemplo mais óbvio, mas também Carros Velozes e até a vida passada de Annie nos artigos de jornal. Além disso, a sede de Paul por continuar escrevendo e querendo ver o que acontece, até que finalmente a própria escrita substituí o vício, é a captura perfeita de Mil e uma noites como a trama sem fim, sempre haverá mais uma noite.
O fato de Annie ser uma assassina em série, quebrou um pouco a imersão para mim, e não achei necessário pra aumentar o terror que Paul já vivia.
O livro também diz muito sobre o próprio processo de escrita do autor, que ele mesmo já relatou que deixa a história fluir e não sabe muito a direção final dos livros. O que torna Misery um livro riquíssimo com muita metalinguagem.