Clear, sober, to the point. Divided in a set of principles that you will remember when you play - even if you only remember them after playing the wrong move.
Este livro andava lá por casa há muito tempo. Sempre o evitei por - e não minto, meus amores - ter uma capa feia e uma descrição na contracapa que anunciava uma lamechice insuportável. Ocorre-me qualquer coisa sobre juízos e capas de livros e coiso e tal.
Ignorante de quem era Thomas Bernhard, comecei a ler Perturbações sem grande excitação na moleirinha. Mas depois veio aquele desfile de bizarrias, um festival de personagens grotescas e maravilhosas que iam sendo visitadas pelo médico e pelo seu filho, do miúdo louco e músico genial que vive numa jaula com a irmã, aos putos isolados na garganta do Hochgobernitz, que matam aves com o polegar, até chegarmos, finalmente, ao príncipe.
O príncipe é o último paciente a ser visitado pelo médico. Metade do livro é, no fundo, uma preparação para o príncipe. A segunda metade é um extenso monólogo do príncipe. Ora, isto é tudo feito muito a meu gosto: o monólogo é bizarro, versa sobre loucura, solidão, a posição do homem genial no mundo, niilismo, sobranceira, etc. As primeiras cinquenta páginas do monólogo (a coisa dura cento e tal) são absolutamente geniais, uma daquelas coisas que até dá tesão, mas a coisa perde dinâmica aos poucos, ou eu é que me fui cansando.
Leva com carimbo de recomendado, sem dúvida, mesmo que tenha a certeza que muitos bons leitores não chegarão ao fim do discurso do Sarau.
Regardless of what the title might suggest, this is not a beginner's flavored book. If you still get vertigo at the sight of an empty 19x19 board, then you're better off with - hell, I don't know! This is the first book about Go I've read, so I cannot suggest anything other than playing 100 games, or something, and pick this one up when you're above 15kyu, or something. Kageyama is not teaching the fundamentals of Go, but rather the value and importance of such fundamentals. He's preaching at all the advanced amateurs who start to choose more convoluted moves over the fundamental ones, just because they feel that's what stronger players do. “Don't do that”, is what Kageyama says in this book.
And he says it with a great voice, a passionate, emotionally driven voice. You got to love when he writes stuff like “What? Incredible! That would be the acme of bad shape. If White plays ‘b', Black ataries him with ‘c'. Kindly spare me the gruesome sight”, or “Given a chance like this, only a feeble-minded player would be uncertain where to play - `not this point, not here either, perhaps I should leave the position as it is.' Black's hand should be trembling with eagerness to play. He should be overcome with emotion.” So the prose is excellent. How about the lessons? They flow quite nicely - most lessons flow quite nicely, anyway. Truth is some of the examples surpassed me completely, and Kageyama won't hold your hand every step of the way. At times, all you get from him is “you should see why diagram 6 is better than diagram 7”, and sometimes I can't see that, and sometimes I tell him “Hey, Toshiro (I'm on first name basis with him), I can't see why 6 is better”, just to have him answering “Then print both diagrams and look at them every morning, until one day you pop out of bed and say ‘Wow!, diagram 6 is better!'” Great guy, he is.
I feel Lessons in the Fundamentals of Go is one of those books to which one comes back every once in a while. I bet I'll dive at it again when I'm two or three k-letters better, finding in it stuff it surpassed me before, and I don't think that will stop until I'm 9dan... 9dan... ah... ah ah ah... AH AH AH AH AH AH AH!!!!!
Martin Amis é um cabrão. Goza com pessoas de bem. Goza com as personagens. Goza com a linguagem. Goza com quem lhe editou o livro. Goza com os leitores. Só não goza com ele próprio. Por isso é um cabrão.
O primeiro Amis que li foi o Yellow Dog. Gostei sem reservas. Corrijo. Adorei sem reservas. Tão, tão bom, o filho da puta do livro. London Fields podia ser quase tão bom, mas o que lhe acontece nesse quase é o suficiente para, a dada altura, dizer-lhe “não estou com paciência para te aturar”. Amis sabe que domina completamente a prosa que escreve. Atira-nos isso à cara página sim, página sim. Também sabe que domina a arte de criar personagens que não se esquecem. Atira-nos isso à cara... bem, deu para perceber. O que Amis não domina neste London Fields (mas que domina no Yellow Dog) é a capacidade de se refrear e fazer o livro andar para a frente. A dada altura torna-se masturbatório.
À superfície, London Fields é apenas a história de um homicídio, uma que diz logo ao início quem mata quem e porquê. Só não diz como. Isto à superfície. Lá no fundo é outra coisa. É um livro sobre pessoas que não têm lugar no mundo. Com menos piruetas, London Fields era um livro quase perfeito sobre pessoas que não têm lugar no mundo. Assim é só um livro irritante que deixa aquele amargo de boca de coisa que tinha tudo para nos deixar com um sorriso estúpido na cara, mas não deixa.
Quando estive em São Miguel comprei, numa feira do livro, alguns livros de “literatura açoreana”. Este Sombra Duma Rosa foi a mais impressionante surpresa do lote. Um conjunto de histórias que vai do cómico ao revoltante como quem acende um fósforo, situadas num arquipélago ainda à porrada pela independência. A prosa é forte e muitas vezes inspirada. Absolutamente recomendado.
Só não declaro que este Eliot é o meu bairrista favorito, porque Gonçalo M. Tavares torna monstruosamente difícil a tarefa de dizer de qualquer um dos senhores que é menor que os outros. Chega a ser obsceno. Dá vontade de lhe bater a cada linha que escreve. Cabrão.
Mil vezes cabrão.
O que é maravilhoso em Oliver Sacks é que ele fala de pessoas. Sim, pessoas com “doenças”, doenças neurológicas que, sem dúvida, passamos a conhecer com enorme profundidade e detalhe, mas sempre através da presença da doença numa pessoa. Nota-se que ele se apaixona pelos seus casos, não só por cada pessoa no caso, mas também pelas características do caso. Ou seja: apaixona-se pela pessoa com a doença, pela vida da pessoa, pela rotina da pessoa, pelo modo como os outros interagem com a pessoa, pelos objectos, pelos lugares, pelas profissões. Para além disso, Sacks escreve muito bem, com um cunho pessoal forte, que se aproxima da literatura sem se esquecer de que é um relato médico-científico. E depois há toda a parafernália de situações surpreendentes e impossíveis de “imaginar”, como a possibilidade de ser-se cego sem disso se dar conta. Neste ponto, é um maravilhoso menu de desbloquadores de conversa. Evidentemente recomendado.
O meu primeiro Murakami - mas julgo não ter começado bem.
Uma bela história, personagens interessantes, sem dúvida, mas uma voz narrativa profundamente... desinteressante. As reflexões repetem-se sem acrescentarem nada de novo ao que já tinha sido dito, numa narrativa pejada de lugares comuns (pelo menos na tradução de Maria João Lourenço, não faço puto ideia como será o original) e uma insistência em descrever o inútil que me irritou. Sim, grande parte do texto é inútil: não tem “literatura suficiente” para nos agarrar só por si, não desenvolve personagens e não adianta nada à história. O melhor exemplo que posso dar é a viagem de K do Japão à Grécia. São páginas e páginas em que ficamos a saber que ele pagou o bilhete, que recebeu o bilhete das mãos da senhora do balcão, que bebeu uma água, que se ouviu “Todo os passageiros do voo sei lá quê devem embarcar”, que isto, que aquilo. Ele descreve toda a sua viagem como quem está a fazer um relato de futebol, e no fim da descrição eu não fiquei com a sensação de ter viajado com ele, nem de ter estado nas ruas de Atenas.
O livro está cheio destes momentos, e julgo que isso matou tudo o resto que ali havia de interessante. E é pena, porque o que lá há de interessante, até é bem interessante.
Ocorreu que andava a passear os olhos pelas caixas de cartão (sim, os livros ainda estão em caixas de cartão) quando vi o título e pensei “Caraças, não me lembro de nada deste livro!” Sabia que já o tinha lido, mas enredo?, nada. Estilo literário?, nada. Personagens?, nada. A dada altura achei que já me estava a lembrar de tudo quando me dei conta que era n'O Agente Secreto, do Conrad, que estava a pensar. Depois veio-me à tola uma passagem que envolvia um tipo pensar que uma tipa estava a preparar mal um bule de chá. Ok, isto de certeza pertencia a este livro. Ou quase a certeza. Uma releitura impunha-se.
O Terceiro Homem é um livro que nasceu para ser um filme. Nunca vi o filme. Conheço a banda sonora. Adiante. Nasceu para ser um filme, não para ser um livro, e isso nota-se. Não que seja um mau livro ou que esteja mal escrito - não é, não está. Não sei bem como explicar isto sem recorrer a bolos, por isso aqui vai: volta e meia faz-se massa para bolo cujo propósito é cortar aos cubos e usar como base para outra sobremesa qualquer. Sim, a massa pode ficar muito boa e até servir-se o bolo assim, mas percebe-se facilmente que não era bem essa a ideia. Pronto, melhor que isto não arranjo.
Histórias muito boas. Histórias muito más. Gaiman tem muitas qualidades, mas a consistência não será uma delas.