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O que têm em comum o pintor que, em decorrência de um acidente, passa a enxergar o mundo em preto e branco, o rapaz cujas únicas lembranças se restringem ao final dos anos 60 e o exímio cirurgião tomado por todo tipo de tiques (verbais e físicos) na vida cotidiana? Para o neurologista Oliver Sacks, esses não são apenas casos clínicos extraordinários. Antes de mais nada, eles dizem respeito a indivíduos cujas vidas, pressionadas por situações-limites (por vezes trágicas, em geral dramáticas), podem nos ajudar a compreender melhor o que somos. Examinando casos clínicos de indivíduos com diferentes tipos de lesões, Sacks constrói uma teoria da inteligência.
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O que é maravilhoso em Oliver Sacks é que ele fala de pessoas. Sim, pessoas com “doenças”, doenças neurológicas que, sem dúvida, passamos a conhecer com enorme profundidade e detalhe, mas sempre através da presença da doença numa pessoa. Nota-se que ele se apaixona pelos seus casos, não só por cada pessoa no caso, mas também pelas características do caso. Ou seja: apaixona-se pela pessoa com a doença, pela vida da pessoa, pela rotina da pessoa, pelo modo como os outros interagem com a pessoa, pelos objectos, pelos lugares, pelas profissões. Para além disso, Sacks escreve muito bem, com um cunho pessoal forte, que se aproxima da literatura sem se esquecer de que é um relato médico-científico. E depois há toda a parafernália de situações surpreendentes e impossíveis de “imaginar”, como a possibilidade de ser-se cego sem disso se dar conta. Neste ponto, é um maravilhoso menu de desbloquadores de conversa. Evidentemente recomendado.