Os Primeiros: A saga dos artistas que inventaram o Brasil

Os Primeiros: A saga dos artistas que inventaram o Brasil

2023

Os Primeiros foi escrito ao longo de sete anos de trabalho e pesquisas. Entre obras e teses acadêmicas, Ricardo Prado leu 127 volumes e dezenas de artigos e ensaios para escrever seu romance histórico. “José Maurício conheceu três Brasis: a Colônia, o Reino Unido de Portugal e Algarve e o Império”, explica o autor. Sua vida permitiu a Ricardo percorrer esses três períodos da história do Brasil, o personagem central de sua reflexão como escritor: José Maurício vive a infância e a juventude na colônia, o ápice da vida profissional em torno da realeza e a decadência, até sua morte, sob o império de Pedro I. Pelas centenas de páginas do romance, que se lê como um thriller, desfila um painel de grandes personagens. O leitor é apresentado a um José Bonifácio menino, com dotes de cantor, atuando na ópera de uma São Paulo ainda longe dos dias de metrópole. Tiradentes apaixona-se por uma jovem mineira, Perpétua, enquanto costura a trama da Inconfidência. O poeta Silva Alvarenga, professor de retórica de José Maurício, alimenta outra inconfidência, a carioca, e está envolvido com uma cantora negra que tinge a face de branco para apresentar-se na Europa. Dona Carlota Joaquina e Dom João, presentes na memória dos brasileiros quase sempre como caricaturas do que foram, são retratados em Os Primeiros com olhar lúcido: ela como a mulher brilhante que lutou por uma nova União Ibérica; ele como homem de grande sofisticação musical que identificou o talento de José Maurício e deu-lhe tantas oportunidades de brilhar. Marcos Portugal, o compositor português favorito de Dom João, e seus embates com José Maurício, compõem uma narrativa à Mozart e Salieri, porém com desdobramentos fascinantes. E ainda: o príncipe Pedro, com seu arrojo, suas mulheres e sua brutalidade; Leopoldina, a princesa europeia que, nos bastidores, trabalhou pela independência brasileira; o escritor Goethe, o compositor Beethoven, os revolucionários do Caribe e da França, até Napoleão Bonaparte – tudo se entrelaça neste romance monumental, que viaja entre as neves europeias e o calor dos trópicos. Todos esses personagens reais emergem das páginas de Os Primeiros com a densidade da pesquisa de Ricardo Prado, mas também com as tintas que o autor escolheu para pintá-los. Fatos estão postos, mas será que Perpétua, a última amante de Tiradentes, existiu mesmo? Será possível que Ana, uma mulher escravizada que comprou a própria liberdade e a da filha, tenha encontrado condições propícias para abrir um negócio? Que destino teve Severiana, a mulher da vida de José Maurício? O grande compositor austríaco Sigismund von Neukomm terá mesmo escrito elogiosamente sobre ele num jornal vienense? Impossível não se perguntar onde está a fronteira entre verdade e ficção, o que só torna a leitura mais instigante. Personagens de cinco décadas da história brasileira entram e saem das páginas, com a música de José Maurício sempre presente. O leitor vai se familiarizando com expressões do universo musical, como Te Deum, tiples, mestre de capela, coda. E torce pelo sucesso do protagonista como se ainda fosse necessário torcer. Vibra com cada conquista e sofre com cada percalço. Mérito do texto, que o autor modula com delicadeza, dosando lirismo, em cenas íntimas de dor e amor, e brutalidade, em momentos de crime e urgência. É uma prosa que leva o leitor a um túnel do tempo sem soltar-lhe a mão com malabarismos linguísticos. É literatura de primeira categoria num romance histórico com DNA nacional.

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