Foi só à segunda tentativa que consegui terminar o livro, mas não porque houvesse algo de errado com ele. Na verdade, eu estava bastante entusiasmada para o ler. Mas as circunstâncias da minha vida não eram favoráveis ao tema, ao tipo de escrita, e ao tipo de história. Portanto, eu diria que este é o tipo de livro em que tem de estar com a cabeça no sítio certo para conseguir desfrutar.
Dei-lhe 4 estrelas porque, apesar de ter gostado bastante da história e a escrita ser bastante boa (algo que tenho alguma dificuldade em encontrar nos escritores portugueses que li até agora), há um certo ar pretensioso em redor do livro. Seja pela protagonista cujo complexo a faz julgar toda a gente, seja pelo vernáculo pomposo que é usado - por vezes, despropositadamente. Isso, e a repetição constante de certas expressões (por exemplo: “madrilena” é possivelmente a palavra mais usada na história, e nunca se vê Madrid referida de outra forma), ou seja porque os diálogos não são muito realistas (todas as personagens falam como se estivessem a escrever uma crítica) tornam a leitura um pouco cansativa. Porém, eu creio que o primeiro elemento é uma questão puramente pessoal - como já disse, a escrita é BOA. Mais do que boa, há lírica nela e uma tentativa de fugir à escrita leviana e superficial.
Sobre a história: vi muita gente a criticar os temas abordados. Não por serem abordados, mas pelo excesso de problemas. Eu tenho duas visões distintas sobre isso.
Por um lado, um romance que dispara para vários lados - neste caso, temos a abordagem a temas como a ansiedade, depressão, traumas de infância, violência sexual, feminismo, relações abusivas, coming of age, etc - dificilmente consegue realmente explorar nenhum deles profundamente. E, de facto, ao longo do livro somos bombardeados com todo o tipo de problemas sociais e questões políticas que se podem imaginar no século XXI.
Por outro lado, não é isso a vida de um jovem adulto em 2020/2022? Este é um livro que procura retratar a vida de uma jovem mulher que, no final dos seus 20s, tem uma “crise existencial” e tem de enfrentar toda uma série de problemas típicos da sua geração. E ser millenial, neste século, significa lidar com uma dúzia de problemas distintos todos os dias. Se nós não podemos escapar deles, como poderia uma personagem de um livro que nos pretende retratar?
Não foi um livro que eu pegasse e depois não conseguisse pousar. Na verdade, demorei mais de um mês para o ler, pegando nele aos pedacinhos e sorvendo a sua história como se fosse um café muito quente. Precisamente por cause do que mencionei acima - a escrita pomposa, a abundância de temas, as bombas emocionais despejadas no leitor -, este livro lê-se melhor em doses controladas. É bastante bom de ler - e eu recomendo-o a todas as jovens mulheres que estejam nos seus 20s e se sintam perdidas na vida -, mas melhor lido devagarinho.
Fiquei estupidamente feliz por ver uma autora portuguesa a publicar uma história destas. A voz da Cátia Vieira merece ser ouvida, e Lola é uma personagem que ia certamente fazer muita gente sentir-se representada (como eu me senti - inclusive, deu-me vontade de voltar a pegar na minha câmara!).