A Rapariga do Fim

Ah, a aventura cómica de reler um livro que já li, coisa que poderá acontecer com mais frequência à medida que a idade avança! É como voltar a um restaurante que adorei há anos, mas desta vez não me lembro onde fica, o que pedi e se gostei mesmo da sobremesa!

Cá estou eu a segurar este livro. Ao abri-lo, a minha mente parece um labirinto, perdida entre pistas e lembranças fragmentadas das histórias passadas.

E não é um livro qualquer, é um thriller! Um daqueles romances repletos de mistérios, reviravoltas, suspense e adrenalina.

Começo a ler e, logo de início, deparo-me com aquela sensação intrigante de “eu já vi isto antes!”. Claro, li este livro, mas não posso dizer quando é que foi. Deve ter sido por altura da pandemia, e eu, que nem apanhei o vírus da Covid, estou com problemas de memória. E a memória tem um sentido de humor cruel, lembro-me de partes aleatórias, mas não consigo saber o que acontece a seguir.

Numa página, recordo-me claramente de uma situação específica e na página seguinte, surge uma personagem e, para minha surpresa, não me consigo lembrar dela de maneira nenhuma.

À medida que avanço, pareço uma Lepidoptera desorientada em torno da luz, fico presa entre o desejo de continuar a leitura para refrescar a minha memória e a ideia de que se me esqueci do final, não vale nem a pena continuar.

Sinto uma tentação irresistível de ir até às últimas páginas e desvendar o enigma. A cada página da história, o meu cérebro parece fazer um jogo de gato e rato comigo. “Lembras-te disto?”, sussurra ele. Deveria lembrar-me disto, penso eu!

Segui ainda durante umas quantas páginas nesta jornada literária de sentimentos mistos. Mas acabou, não vou continuar.

E, no final das contas, talvez nunca me lembre totalmente do desfecho desta história. Mas está tudo bem. Quem sabe, talvez num futuro longínquo, o livro ainda me surpreenda novamente, como se fosse a primeira vez!