Em "A América: a nossa e as outras", 1992, Maria José de Queiroz estuda o ponto de vista das nações colonizadoras em relação à América. O Velho Mundo, segundo sua perspectiva, vê nosso continente como "uma América em retalhos", um patchwork composto de tecidos diversos, de cortes aparentemente pouco seguros. A produção intelectual e artística da América Latina estaria, assim, fadada a figurar na banca dos refugos, em relação ao Velho Mundo. Reverter esse ponto de vista requer uma possibilidade de encontro dos países do Novo Mundo, a realizar-se no território de papel da literatura, em que letras e tintas das Américas possam confluir numa polifonia, numa variedade de sentidos. Nesse lugar privilegiado, peruanos, argentinos, chilenos e brasileiros poderiam reconceituar a própria produção artística e literária e assim redescobrir a si próprios no convívio e no entendimento coletivo. A América em retalhos, imagem que a ensaísta utiliza para pensar a condição americana, produz-se entre as meadas da narrativa, como que fora da linearidade que é cobrada do latino-americano. Segundo a escritora, uma narrativa em labirinto de mil babélicas vozes, amarradas no texto e trazendo cada uma o seu sentido, poderia acabar por conferir uma significação ao todo. Uma produção assim, embora fragmentada e estilhaçada, ostentaria, em paralelo, vozes distintas, multilíngues, e o leitor seria um andarilho pelas terras latino-americanas, aprendendo a costurar o tecido colorido das letras da América.
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