A base da história é ótima, mas a estrutura narrativa me incomodou em vários momentos. A inconsistência dos capítulos alternados, o mistério artificial que não condiz com a onisciência do narrador... Narrador esse que alterna seu foco no meio de capítulos sem motivo aparente. Acho que, em geral, meu problema com o livro foi uma falta de foco.
Apesar de tudo, sinto que há várias versões desse livro que eu adoraria. Consigo ver uma história com potencial através desses incômodos estruturais.
Uma clássica “fantasia no mundo real”, mas com um toque agradável de maturidade e originalidade.
Senti aqui a familiar sensação de presenciar magia, mas, diferente das sagas da minha adolescência, esse ambiente é usado para contar uma história mais orgânica, fugindo na maior parte do tempo da “longa missão importante” ou do “grande vilão apocalíptico”. Em The Golem and the Jinni, Wecker prefere falar, direta ou indiretamente, sobre as dificuldades da imigração à grande Nova York, as relações entre judeus e muçulmanos, o que é sua própria natureza e até que ponto vale à pena aceitá-la (ou negá-la). Todas temáticas interessantes que tornam a história densa e reflexiva, além de mágica.
A história me perdeu levemente ao tratar o antagonista de forma um pouco unidimensional, beirando o fim, mas o clímax em si foi uma conclusão tão satisfatória de todas as pontas tecidas ao longo do texto que isso foi rapidamente encoberto.
A narração também é interessantemente dinâmica: em terceira pessoa, mas sempre focando na perspectiva de alguma personagem. Apesar de, na minha opinião, tirar o foco de momentos importantes em alguns pontos, as mudanças de perspectiva mantêm o texto vivo e sempre cumprem um propósito.
Uma coleção excepcional de livros para inspirar e aprender, acompanhada de mergulhos breves nas mentes de profissionais renomados.
Um excelente sobrevôo pela prática da publicação de livros com reflexões importantes sobre porque estamos e como seguiremos nesse meio num futuro crescentemente digital.
Pensei muito sobre os ratos enquanto lia, subsuperficialmente, relacionando eles aos personagens... pelo rebaixamento, pela fragilidade... Todos são vulneráveis no livro, em camadas; uns mais que outros. A idade, o gênero, a raça, o status, a capacidade intelectual... são fragilidades cumulativas que definem a hierarquia da fazenda. No entanto, cada um dos mais rebaixados ganha espaço de fala pelas mãos de Steinbeck, e a oportunidade de reescrever suas primeiras impressões, normalmente indiretas e distorcidas; a maioria por conta própria, mas Lenny ganha essa empatia a partir da própria narração.
A narração, inclusive, contrasta fortemente com a oralidade das falas e destaca esse senso de vulnerabilidade dos personagens, sem nunca, contudo, tratá-los como inferiores. O ritmo do livro também é bem fluido, e a maneira como a história ecoa dentro de si fortalece esse processo, a intensidade dos momentos escalando calmamente até o final. Além disso, a narração também trás momentos idílicos à leitura, descrevendo momentos e espaços de forma bela e breve, quase um respiro a cada capítulo.
Quanto ao enredo em si, ele traz uma imagem muito bonita de sonhos e como uma luz ao longe dá forças para seguir em frente. Mas também é muito sobre duvidar desses sonhos, sobre o mundo real e suas dores, sobre seguir em frente sem a luz.
Sensacional. Precisamente no limite entre contexto ficcional e discurso real, do jeitinho que eu gosto.
A maneira que Le Guin dá identidade a cada personagem através da narração é clara e certeira. O ponto de vista de Davidson é odioso e egocêntrico, o de Selver é sonhador e inclui a atmosfera e o ambiente ao redor. Apesar de usar a terceira pessoa, a narração assume totalmente a perspectiva do personagem que segue, gerando uma visão respeitosa e naturalizada sobre a cultura dos nativos alienígenas. Essa forma de tratamento me gerou boas reflexões sobre perspectiva, apreço e pertencimento.
A narrativa também traz um discurso sobre a dualidade pacifismo-violência que deixa questões em aberto na medida certa. A brutalidade é uma ferramenta ou uma doença trazida pelos colonizadores? Até certo ponto, ambas. A sociedade de Athshe a usou para se libertar, mas segue para sempre sob a sombra da sua possibilidade, mudada.
Tenho percebido que guerra não é exatamente um tema que me atrai. Mas não foi só por isso que essa leitura me decepcionou um pouco.
O próprio autor diz - sobre outro autor, mas achei irônico - “his prose was frightful, only his ideas were good”. Muitas coisinhas me incomodaram durante a leitura, como a escrita repetitiva em frases curtas e secas, ou a apresentação de arcos e personagens que não vão a lugar algum. E apesar disso tudo, alguns conceitos presentes na história são interessantes e demonstram potencial, como a visão do tempo como fixo e acessível e a ressignificação da morte (com o qual Ted Chang faz um ótimo trabalho). Mas todas as ideias são jogadas de um jeito meio caótico e deixadas sem muito apreço, o que pode ser intencional, porque é bem consistente, mas não me agrada.
So it goes.
Era pra ter lido esse na escola, mas não me arrependo de ter demorado tanto. Seja pelo meu momento pessoal de vida, pelo contexto político atual ou por essa edição da Antofágica, sinto que tive uma experiência muito mais interessante que teria em qualquer outra circunstância até hoje.
É deprimente, apesar de instigante, identificar tantos aspectos de 1984 e do Partido no meu entorno, desde a apropriação e ressignificação de símbolos e palavras, até a perda da privacidade e alienação do indivíduo. Mas observar os pequenos momentos de fuga e rebeldia de Winston dão alguma esperança que, apesar de esmagada no decorrer dos capítulos, continua existente, enterrada e insistente. Ele procura liberdades na mente, no amor e na memória que acabam sendo amplificadas por sua destruição.
Quanto à estrutura, o ritmo e escala dos eventos vão aumentando a cada seção e há momentos que me deixaram realmente em agonia. A escrita de Orwell é relativamente neutra em tom, o que, acredito, recebeu extremamente bem as várias intervenções de diagramação da edição da Antofágica. Com essa nova dinamicidade do texto, acompanhada das ótimas ilustrações, minha experiência de leitura foi amplificada em várias vezes.
No geral, foi uma ótima leitura, como um (re)encontro com um parente distante do qual só ouvi comentários promissores.