Um livro simplesmente fantástico. Nele, entramos na mente de um homem socialmente inepto, ressentido e misantropo, que narra seus sentimentos e filosofias do “subsolo” onde habita.
Homem esse que representa de forma extremamente verossímil a casta de indivíduos, hoje mais viva do que nunca, que, por não conseguirem ser socialmente aceitos, seja por falhas de caráter, traumas passados, bullying ou outras razões. Preferem se recolher à margem da sociedade, onde tentam preservar uma espécie de sentimento de superioridade para com seus pares, mas, ao mesmo tempo, os ressentem e culpam por seu infortúnio e solidão.
Esses “indivíduos do subsolo”, antigamente, não tinham como se comunicar para uma audiência maior sobre suas aflições e frustrações, mas hoje, com a internet, essas pessoas conseguem se juntar em grupos onde podem ecoar seus gritos de ódio e ressentimento sobre a sociedade que os “rejeitou”.
Obviamente, o “homem do subsolo” do Dostoiévski é muito mais afiado estética e intelectualmente do que suas contrapartes modernas. É até difícil não simpatizar com ele.
Isso é algo que com certeza me perturba, pois, apesar de o “homem subsolo” ser alguém patético que merece a solidão que o cerca, as falas deles, monólogos e muitas de suas ideias ressoam comigo muito mais do que penso ser socialmente aceito. Em parte, não consigo deixar de simpatizar com ele.
Acredito que exista um certo charme, principalmente em uma sociedade onde todo mundo tem que vestir uma máscara para ser aceito, um indivíduo que admite sentir prazer em sua repugnância, que se regozija na sua natureza ignóbil. Que, mesmo desejando ser aceito ou, mais precisamente no caso de nosso protagonista, exercer poder e dominância sobre os outros, não consegue esconder sua própria natureza. É inadequado demais, se inferioriza, é ranzinza demais. É humano demais.
No geral, Dostoiévski pinta o retrato perfeito de um indivíduo atormentado e caráter. Um homem que desesperadamente deseja ser reconhecido e amado por seus semelhantes, mas é incapaz de se conectar com esses mesmos semelhantes por sentimentos de vergonha e superioridade.