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No Rio de Janeiro do final do Império, o cotidiano miserável de uma habitação coletiva. Em seus cubículos amontoam-se os desfavorecidos e marginalizados da sociedade, com suas agruras e percalços na luta pela sobrevivência. Além do texto estabelecido conforme a última edição em vida do autor, contém iconografia histórica e notas de rodapé. Traz também um ensaio de apresentação que oferece argumentos para uma nova leitura do romance.
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Um romance épico e revelador sobre as classes sociais do Rio do século 19 e na verdade ainda o Brasil de hoje.
Tinha pra mim que daria 4 estrelas ao Cortiço, estava decidido, mas esse final me pegou de surpresa e me deixou no chão (não tanto pela história em si quanto pela narrativa incrível do Aluísio Azevedo, mas que seja). No todo, meu único arrependimento foi não ter corrido atrás de ler esse livro antes.
Aluísio de Azevedo (São Luís, 14 de abril de 1857 — Buenos Aires, 21 de janeiro de 1913) foi um romancista, caricaturista e diplomata brasileiro. Aos 19 anos sai de São Luís e ruma à capital, Rio de Janeiro, onde prossegue os estudos na Academia Imperial de Belas-Artes. Com a morte do Pai em 1878 regressa a casa, e começa a carreira literária para ganhar a vida.Em 1881 publica o seu primeiro romance, [b:O Mulato 18526250 O Mulato Aluísio Azevedo https://i.gr-assets.com/images/S/compressed.photo.goodreads.com/books/1379869448l/18526250.SY75.jpg 4933024] , que causa bastante incómodo na sociedade maranhense.Regressa ao Rio de Janeiro, em 1881, decidido a iniciar a vida de escritor, mas em 1895, já depois de ter publicado diversos escritos abandona a literatura e dedica-se à diplomacia. É um dos fundadores – cadeira nº 4 - da Academia Brasileira de Letras.O Cortiço é uma das principais referências da escola literária realista-naturalista brasileira, e é sem dúvida um clássico a não perder.É uma história recheada de personagens, em que cada uma vive um drama diferente. Há amores e desamores, injustiças sociais, escravidão disfarçada, preconceitos, adultério, prostituição, homossexualidade, assassinatos, etc. A vida das personagens vai-se entrelaçando com o Cortiço, tornando-o o protagonista do livro. E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.(...)Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo.O dono do cortiço é João Romão, um português ambicioso, pouco escrupuloso, e cuja ascensão social acompanhamos ao longo do romance.João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamento de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.Paredes meias com o cortiço vive Miranda, um português aristocrata cuja mulher tem como ocupação dos tempos livres traí-lo. Bertoleza é uma escrava negra fugida a quem João Romão enganou com uma falsa carta de alforria.Jerônimo é um português, casado com Piedade, que administra a pedreira de João Romão. Mais tarde apaixona-se por Rita Baiana e no final O português abrasileirou-se para sempre; fez-se preguiçoso, amigo das extravagâncias e dos abusos, luxurioso e ciumento; fora-se-lhe de vez o espírito da economia e da ordem; perdeu a esperança de enriquecer, e deu-se todo, todo inteiro, à felicidade de possuir a mulata e ser possuído só por ela, só ela, e mais ninguém.Firmo, o atual amante de Rita Baiana, era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas, e todo ele se quebrando nos seus movimentos de capoeira. Teria seus trinta e tantos anos, mas não parecia ter mais de vinte e poucos. Pernas e braços finos, pescoço estreito, porém forte; não tinha músculos, tinha nervos. A respeito de barba, nada mais que um bigodinho crespo, petulante, onde reluzia cheirosa a brilhantina do barbeiro; grande cabeleira encaracolada, negra, e bem negra, dividida ao meio da cabeça, escondendo parte da testa e estufando em grande gaforina por debaixo da aba do chapéu de palha, que ele punha de banda, derreado sobre a orelha esquerda.Rita Baiana é inicialmente a amante de Firmo, mas posteriormente troca-o por Jerônimo.Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal, num requebrado luxurioso que a punha ofegante; já correndo de barriga empinada; já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como se se fosse afundando num prazer grosso que nem azeite, em que se não toma pé e nunca se encontra fundo. Depois, como se voltasse à vida, soltava um gemido prolongado, estalando os dedos no ar e vergando as pernas, descendo, subindo, sem nunca parar com os quadris, e em seguida sapateava, miúdo e cerrado, freneticamente, erguendo e abaixando os braços, que dobrava, ora um, ora outro, sobre a nuca, enquanto a carne lhe fervia toda, fibra por fibra, tirilando. (...) só ela, só aquele demônio, tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante.É uma radiografia da sociedade brasileira da época, uma constatação de que o homem é produto do meio em que vive. Uma crítica social mordaz.Gostei muito da escrita minuciosa com descrições detalhadas das personagens e dos ambientes, dos assuntos abordados como o racismo, o conservadorismo, a homossexualidade ou mesmo as relações entre os ricos e os pobres Um classicão!