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Near a village high in the Pyrenees, Domènec wanders across a ridge, fancying himself more a poet than a farmer, to “reel off his verses over on this side of the mountain.” He gathers black chanterelles, attends to a troubled cow. And then storm clouds swell, full of electrifying power. Reckless, gleeful, they release their bolts of lightning, one of which strikes Domènec. He dies. The ghosts of seventeenth-century witches gather around him, taking up the chanterelles he’d harvested before going on their merry ways. So begins this novel that is as much about the mountains and the mushrooms as it is about the human dramas that unfold in their midst.
When I Sing, Mountains Dance, winner of the European Union Prize, is a giddy paean to the land in all its interconnectedness, and in it Sola finds a distinct voice for each extraordinary consciousness: the lightning bolts, roe-deer, mountains, the ghosts of the civil war, the widow Sió and later her grown children, Hilari and Mia, as well as Mia’s lovers with their long-buried secrets and their hidden pain.
Irene Solà animates the polyphonic world around us, the fierce music of the seasons, as well as the stories we tell to comprehend loss and love on a personal, historical, and even geological scale. Lyrical, elemental, and mythic, hers is a fearlessly imaginative new voice that brilliantly renders both our tragedies and our triumphs.
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Obra Maestra.
Concentrada en esta novela está la esencia de la literatura universal (quiera decir eso lo que quiera decir). Y punto.
Este livro é diferente de tudo o que li até agora. Demorei algum tempo a apanhar o fio à meada e ao ritmo, mas assim que consegui, tive a certeza de que se tornaria um favorito. Irene Solà tem uma escrita deslumbrante, terna, densa, lírica, poética, visceral e violenta... com uma variedade de estilos... uma espécie de caleidoscópio literário, que é urgente, impele-nos a uma leitura rápida, mas que contrariei e tornei lenta para poder saborear todas as suas nuances.
Este livro recebeu aclamação crítica e vários prémios literários, incluindo o Prémio de Literatura da União Europeia em 2020.
A narrativa deste romance é única, fragmentada, com diferentes vozes narrativas, incluindo personagens humanas, fantásticas, animais e até mesmo elementos naturais, que se entrelaçam para contar a história de uma família atingida pela tragédia, numa região montanhosa dos Pirenéus. Esta multiplicidade de perspectivas cria uma teia narrativa rica e complexa, que nos convida a reconstruir a história a partir de diferentes pontos de vista e sem ser pelo olhar antropocêntrico.
As personagens do romance são variadas e incluem seres humanos, como Domènec (o camponês poeta) e Sió, Hilari e Mia, Jaume, entre outros, bem como vários elementos não humanos que têm voz e nos oferecem as suas perspectivas:
Nuvens de Tempestade, Chuva e Raios
Chegámos com as barrigas cheias. Doridas. Os ventres negros, carregados de água escura e fria e de raios e trovões. Vínhamos do mar e de outras montanhas, e vá-se lá saber de que lugares mais, e vá-se lá saber o que tínhamos visto. (…) Tapámos tudo como um cobertor. (…) Depois da chegada, e da quietude, e da pressão, e de comprimir o ar suave contra o chão, disparámos o primeiro raio. Bang! (…)E então derramámos a água em gotas imensas (…)E nós rimo-nos, ih, ih, ih, ih, enquanto lhe molhávamos a cabeça, e a nossa água se metia por dentro do colarinho da camisa, e percorria os ombros e as costas, e as nossas gotinhas frias despertavam o seu mau humor.
Trombetas-da-morte
Os fungos simbolizam a ligação da vida e da morte, o mistério e a magia da natureza, a resiliência e adaptação, a nutrição e sustentabilidade, e oferecem uma perspectiva que enaltece a diversidade e a riqueza do mundo natural. Representam uma visão colectiva do mundo. Eles não existem uns sem os outros.
O chapéu de uma é o chapéu de todas. A carne de uma é a carne de todas. A memória de uma é a memória de todas. A escuridão. Sim, a escuridão. Como um abraço. Deliciosa. Protectora. Acolhedora. Como uma queda. Incipiente. A terra. Como uma manta, como uma mãe. Preta. Húmida. Aqui somos todas mães. Somos todas irmãs. Tias. Primas.(…)
Porque não há princípio nem fim. Porque o pé de uma é o pé de todas. O chapéu de uma é o chapéu de todas. Os esporos de uma são os esporos de todas. A história de uma é a história de todas. Porque a floresta é das que não podem morrer. Que não querem morrer. Que não morrerão porque sabem tudo. Porque transmitem tudo. Tudo o que é preciso saber. Tudo o que é preciso transmitir. Tudo o que é. Semente partilhada. A eternidade, coisa leve. Coisa diária, coisa pequena.
Corço
Que nos remete para a inocência e vulnerabilidade, e que perante a sua perseguição na floresta nos amplia a empatia e compaixão. O Corço é um símbolo poderoso do ciclo da vida e nos Pirenéus remete-nos também para lendas e mitos locais.
Lá dentro estava muito quentinho, muito apertadinho, e muito escuro. O meu irmão e as suas patas compridas, eu e as minhas patas compridas, enroscadinhos como as minhocas sob as pedras. (…)E então a mãe separou-nos, a mim e ao meu irmão. (…) Porque os corços só precisam de mãe quando nascem, e são pequenos e têm de aprender. E só têm irmãos quando estão dentro da mesma barriga e bebem o mesmo leite. Mas eu já não bebo leite. (…)muitas madrugadas e muitos anoiteceres depois (…)Levantei a cabeça e estiquei as costas, eriçadas, prontas.(…) E então ouvi-o. O barulho. Pum. O estouro mais terrível que ouvi na minha vida. (…)Eu morreria porque o som me tinha escolhido. Adeus, floresta. Adeus, madrugadas. Adeus, pássaros. Adeus, Sol. Adeus, corço que eu sou. Adeus, corços que são os outros.
Mas não morri e as pernas continuaram a correr, e a correr e a correr e a correr e a correr e a correr e a correr e a correr.
A Lluna
A cadela Lluna não desempenha apenas um papel prático como um animal de estimação na história, mas também simboliza o amor incondicional, a lealdade e companheirismo, a inocência e simplicidade.
Aquilo de que mais gosto é quando assobia. Com os dedos na boca. Porque, então, eu corro. Corro com toda a minha força, e salto, e voo, (…) Quando assobia, corro sobre a erva e a cerca e as rochas. Em direcção ao assobio. (…) E correria e saltaria sobre o carro, se fosse necessário, e sobre a casa, se fosse necessário, e sobre todos os perigos. Passando por cima e por dentro e pelo meio de todos os obstáculos. A toda velocidade, porque se tivesse de salvá-la, salvá-la-ia de tudo o que é mau. (…)E às vezes, quando vou ter com ela ofegante, toca-me suavemente na testa, e no lombo, e diz-me que fiz tudo muito bem, e diz-me coisas bonitas que não entendo, mas que entendo. E nessa forma de me tocar está todo o seu amor, e na minha forma de correr para salvá-la está todo o meu amor.
Há as Mulheres de Água que remetem para a magia dos Pirenéus,
e as que Fazem nascer bebés
As senhoras que sabem fazer nascer bebés são sempre quatro. E têm todas o cabelo branco. Há uma que manda, (…) Há a que se ri, (…) E depois há a (…), que chora sempre. E a (…), que nos conta histórias. Conta-nos umas histórias de que gostamos porque nunca têm a voz nem os olhos dos homens que escrevem as histórias más. As senhoras que sabem fazer nascer bebés vivem na floresta
Há o Urso que faz questão de nos lembrar que Homens repugnantes que matam o que não comem. Homens que querem tudo, que se apoderam de tudo. (…) Só os animais cobardes matam o que não comem.
E finalmente a Terra que reflecte sobre as mudanças geológicas, a formação da cadeia montanhosa dos Pirenéus e o passar do tempo. A montanha viu muitos chegarem e partirem ao longo da sua existência.
Nada durará muito tempo. Coisa nenhuma. Nem a quietude. Nem a calamidade. Nem o mar. Nem os vossos filhinhos tão feios. Nem a terra que segura as vossas patas enfezadas. (…) Terá começado o movimento de novo. O desastre. O princípio seguinte. O enésimo final. E vocês morrerão. Porque não há nada que dure muito. E ninguém se lembra do nome dos vossos filhos.
É um daqueles livros que ficou cheio de sublinhados e notas.
F A V O R I T E I