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Que livro espetacular.
É uma pena que não me foi recomendado antes. Acredito que todo jovem—especialmente esquerdistas e progressistas—deveria lê-lo. Ao contrário do que alguns dizem, não se trata de uma crítica direta ao comunismo. Orwell, como ex-combatente da Guerra Civil Espanhola, testemunhou na Europa os excessos da Revolução Socialista Russa e, posteriormente, sua radicalização em um Estado Totalitário. É essa a crítica central do livro: não a um regime ideológico específico, mas ao fato de que o ser humano é inerentemente egoísta e, por isso, busca o poder não como meio para alcançar algo, mas para perpetuá-lo.
Assim como ocorreu no período do Terror durante a Revolução Francesa, que culminou com a guilhotina de Robespierre, o livro mostra que fora da democracia existe a barbárie. Fora da liberdade de expressão, há o “crimepensar”. Estabelece-se a censura para proteger a revolução. Caçam-se opositores e, posteriormente, críticos dentro do próprio espectro ideológico para proteger a revolução. Chega-se a um ponto em que já não existe mais o objetivo da revolução; instaura-se um regime ditatorial para manter a “interminável revolução”.
Assim como Orwell, ainda sou um esquerdista, mas um esquerdista conservador—não no sentido distorcido que bolsonaristas, trumpistas e reacionários perpetuam hoje, mas no sentido clássico. Um conservadorismo voltado para a preservação das instituições—no nosso caso, como brasileiro, a nossa (im)perfeita democracia. Com todos os seus desafios, ainda é o melhor sistema que temos. E, apesar do caminho difícil, acredito firmemente que tornar nosso país menos injusto socialmente e com mais igualdade de oportunidades é mais seguro pela via republicana. Evitar excessos, garantir direitos inalienáveis e combater qualquer tipo de autoritarismo são fundamentais.
Terminei a leitura após o fatídico 8 de janeiro—um “6 de janeiro” para chamar de nosso. Hoje, torço para que os envolvidos nesse ato golpista, que começou quando aquele político começou a questionar os Três Poderes em maio de 2019, sejam punidos de acordo com a lei. Nada mais, nada menos. Que seus direitos de defesa sejam assegurados, afinal, ninguém merece outra Lava Jato.
SEM ANISTIA.